Você se lembra de sentir náuseas enquanto avançava com Pequod batendo contra as águas turbulentas de Nantucket em Moby-Dick? Ou teve a sensação de que sua testa quase queimava conforme Voldemort se aproximava nas páginas em Harry Potter? Embora possa ser objetivo dos autores escreverem obras tão magistralmente elaboradas ao ponto em que o leitor confunda ficção e realidade, a mais recente iteração de James Tiptree Jr. e "The Girl Who Was Plugged In" eleva a máxima de "se perder na história" para um outro nível. Um projeto ousado que utiliza a mais recente tecnologia para transformar "sentimentos literários" em "sensações físicas".
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(Imagem: reprodução/Scifi2scifab - MIT Media Lab - "The Girl Who Was Plugged In") |
Pesquisadores do MIT Media Lab, nos Estados Unidos, desenvolveram uma espécie de dispositivo que pode ser vestido e que, quando ligado ao corpo, altera as características físicas do portador. Associado à literatura, o objetivo do programa é fazer com que a pessoa sinta todas as emoções e desejos do protagonista da obra que está lendo naquele momento. Tradicionalmente, a ficção induz emoções e empatia por meio de palavras e imagens. Porém, com o projeto, esse processo é alterado ao utilizarem uma combinação de sensores e atuadores em rede como um novo meio de transporte de enredo, humor e emoção.
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(Imagem: reprodução/Scifi2scifab - MIT Media Lab - "The Girl Who Was Plugged In") |
A "sensory fiction" (algo como "ficção sensorial") proporciona uma experiência imersiva na narrativa elaborada sob medida para o leitor. A publicação e o equipamento de vestir (uma espécie de colete) utilizam uma combinação de componentes distintos, que trabalham em conjunto, para chegar ao efeito desejado. O processo de envio de informações para o traje eletrônico fixado ao corpo da pessoa é discreto e permite alterar a taxa de batimentos cardíacos do usuário, criar constrições e causar, até mesmo, flutuação de temperatura. Por exemplo, se o protagonista está nervoso, o mecanismo vibra ao mesmo tempo em que o autor está falando sobre um estômago embrulhado - inaugurando um sentimento geral de ansiedade.
Para tal objetivo, a capa do livro é composta por 150 LEDs programáveis para manipular a luz ambiente com base na mudança de cenário e humor na obra; há um dispositivo de aquecimento pessoal que foi delineado para atuar na mudança de temperatura da pele - por meio de uma junção Peltier fixada na clavícula; a vibração é a responsável por influenciar a frequência cardíaca; além de existir um mecanismo de som e um sistema de compressão - para transmitir uma sensação de aperto ou relaxamento por meio de airbags pressurizados.
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(Imagem: reprodução/Scifi2scifab - MIT Media Lab - "The Girl Who Was Plugged In") |
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(Imagem: reprodução/Scifi2scifab - MIT Media Lab - "The Girl Who Was Plugged In") |
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(Imagem: reprodução/Scifi2scifab - MIT Media Lab - "The Girl Who Was Plugged In") |
A história do protótipo utilizado pela equipe para demonstrar a funcionalidade do dispositivo, "The Girl Who Was Plugged In" (1973), é de autoria da escritora de ficção científica Alice Sheldon - sob o pseudônimo de James Tiptree Jr. A trama se passa no futuro e narra a história de Philadelphia Burke, uma garota de 17 anos que - após uma tentativa de suicídio por causa de sua aparência disforme - é chamada para participar de uma experiência conhecida como "Remote". Um projeto corporativo que permitirá que ela, P. Burke, controle um outro corpo feminino após uma série de modificações e implantes eletrônicos. Delphi, como é conhecido o seu receptáculo, foi cultivada sem cérebro em laboratório a partir de um embrião modificado em um útero artificial. Questões sobre gênero, identidade e mídia são abordadas nesse conto inteligente que evoca o amor e outras descobertas de forma poética e provocativa.
Felix Heibeck, Alexis Hope e Julie Legault são os pesquisadores responsáveis pelo invento que pretende produzir uma nova maneira de se criar e experimentar histórias. Apesar de ainda não possuírem nenhum plano de comercializar o dispositivo, o recente aumento no consumo de "e-leitura" demonstra que é uma questão de tempo até que a "ficção sensorial" se torne - de fato - um estilo literário próprio. Como diz o livro: "melhor acreditar zumbi, há um grande futuro lá fora". No entanto, há de se questionar se a linha entre imaginação e realidade se tornará excessivamente nebulosa e/ou prejudicial.
Gostou do experimento? Assista ao vídeo do projeto e nos diga: "há espaço para 'ficção sensorial' em suas leituras?".
Gostou do experimento? Assista ao vídeo do projeto e nos diga: "há espaço para 'ficção sensorial' em suas leituras?".
Emily Antonetti
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