"Duas cidades, uma sobrepondo a outra. Ruas que fazem fronteiras com dois mundos. Duas pessoas que já não podem lembrar a existência da outra. Dois livros. Duas plataformas e uma experiência de leitura singular". É dessa forma que somos apresentados ao instigante "These Pages Fall Like Ash", um projeto ousado que mistura sutileza e imaginação em uma caça ao tesouro da literatura.
A obra, idealizada pelo acadêmico Tom Abba e o coletivo Circumstance, é um convite para sair da "bolha" criada entre leitor e sofá. "These Pages Fall Like Ash" apresenta uma narrativa experimental contada por meio de dois livros. Um deles é um belo exemplar de capa de madeira, minunciosamente trabalhado. Enquanto o outro, é composto por um texto digital, espalhado em discos rígidos escondidos em uma cidade real para serem lidos em dispositivos móveis. Ambos são essenciais para o desenvolvimento da trama. Para fazer sentido, e produzir novos, é necessário que você experiencie esse dueto narrativo e se entregue à proposta base: sair pela cidade para acompanhar uma história misteriosa munido de uma cópia física e um smartphone em mãos.
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(Imagem: reprodução/Circumstance - "These Pages Fall Like Ash") |
O ponto de partida da história é o momento em que duas cidades se sobrepõem. Ambas existem no mesmo tempo e espaço, mas não estão cientes uma da outra. É um conto sobre duas pessoas que foram separadas, uma em cada cidade, e a batalha que enfrentam para não perderem a memória e conseguirem se reconectar. Uma das cidades é Bristol, na Inglaterra, local em que seus criadores usaram como base e esperam que o público embarque junto. Para que o leitor possa viver, de alguma forma, uma parte da história. Logo, a aventura se torna sobre você e a sua relação com o local, sobre o que você iria se apegar e pelo que iria lutar para se lembrar. Por outro lado, a segunda cidade, "Portus", não pode ser vista - uma espécie de universo paralelo que coexiste com o físico.
O enredo, em si, é uma sutil reflexão sobre os contornos da cidade portuária (Bristol/"Portus"). A história sugere um tempo de dilúvio no futuro, quando as passagens foram todas inundadas e os marcos urbanos foram reinterpretados para atender às necessidades de uma cultura estranha e alheia. O que você é convidado a imaginar é totalmente diferente da realidade. Eles te apresentam uma série de histórias, mitos, dúvidas e enigmas sobre a cidade. Você vê o rio e os sinais fantasmas, os bares antigos e os prédios das universidades de forma mais acentuada - num esforço de enxergar algo novo em seu lugar. O personagem em "Portus" passa a ver pedaços de Bristol aparecerem em sua cidade e, você, passa a ver muitos traços de "Portus" pelo seu caminho - uma Bristol paralela que você não sabia que estava lá.
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(Imagem: reprodução/Circumstance - "These Pages Fall Like Ash") |
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(Imagem: reprodução/Circumstance - "These Pages Fall Like Ash") |
Tom Abba tem um antigo interesse em explorar a relação dos povos com as cidades que habitam. O autor, que se mudou para Bristol há 21 anos, tem como objetivo do projeto recapturar aquele momento em que tudo é novo - aquela sensação de descoberta e emoção. Atualmente, ele e sua equipe estão desenvolvendo uma nova edição de "These Pages Fall Like Ash" para ser acessado em qualquer lugar. O projeto faz parte de uma série desenvolvida em parceria com a Books & Print Sandbox e reforça a tentativa de descobrir como dois mundos podem convergir de forma satisfatória para melhorar a nossa experiência de leitura.
Ficou interessado? Assista o vídeo sobre a criação do projeto clicando aqui.
Emily Antonetti