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"Paris é uma festa", de Ernest Hemingway

As ruas de Paris. Se estiver chovendo e se for a noite, melhor ainda. É neste cenário parisiense romântico, mas com toques realistas, que um Hemingway entre seus 22 e 27 anos passou seus dias tentando deslanchar sua carreira de escritor. Para aqueles que ainda não estão familiarizados com Ernest Hemingway, talvez o filme “Meia noite em Paris” refresque a memória: Ele é o personagem que está sempre com uma garrafa de vinho na mão e diz coisas como “Nenhuma história é ruim se a prosa for limpa e o tema sincero” ou “você nunca vai escrever bem se tiver medo da morte”.



Retrato meio caricato no filme, mas com fundos de verdade. Hemingway, como imaginado por Woody Allen, era explosivo e adorava beber. Seus livros, realmente, são conhecidos pela prosa limpa, “sem enfeites”, dando a sensação de textos quase secos. “Não se aborreça. Você sempre escreveu antes e vai escrever agora. Tudo o que tem a fazer é escrever uma frase verdadeira. Escreva a frase mais verdadeira que puder”, anotou Hemingway para si mesmo. De fato, Hemingway tentava não usar tantos adjetivos e sim trabalhar os substantivos, porque segundo ele, “queria criar, não descrever”. E esta é uma das características marcantes de seus livros, exceto em um: Em “Paris é uma festa”, temos um lado mais sentimental, romântico, sarcástico e descritivos de Hemingway.



O escritor americano ganhador de um prêmio Nobel não teve uma vida fácil. Quando seu pai cometeu suicídio, a mãe lhe enviou a arma usada pelo correio. O próprio Hemingway, aos 61 anos, com problemas de saúde, depressão e perda de memória, decidiu por um fim à sua vida. Duas gerações seguintes seguiram seus passos, também cometendo suicídio. Mas não é este Hemingway que vemos em “Paris é uma festa”. Não. Neste livro auto biográfico temos o jovem escritor, casado e com um filho, trancando-se num quarto de hotel pela manhã para escrever ou andando pelas ruas de Paris observando os pescadores, as lojas, os cafés, as pessoas.

Nesta época, muito antes de sua fama, Hemingway já fazia parte do círculo cultural de Paris. Ia com frequência no apartamento de Gertrude Stein, a colecionadora de quadros e escritora feminista que “não falava com esposas”, era arrogante e vaidosa, muito diferente da personagem retratada em “Meia noite em Paris”. Outro personagem proeminente retratado no livro é Scott Fitzgerald e sua esposa, Zelda. Hemingway relembra do frenesi doentio em que viviam, das provocações de Zelda e da sua iminente insanidade. Em um trecho, a esposa de Fitzgerald diz que ele jamais poderá fazer uma mulher feliz com o tamanho de seu órgão sexual. Scott, pálido, nervoso e hipocondriaco, pede ao amigo para olhar e dizer se isto é verdade. Pondera até a ir num médico para ver se “é normal”. Era assim a rotina de Scott e por isso, assim como no filme, vemos um Hemingway que não é muito amigável com Zelda. 



Hemingway não tinha dinheiro. Pegava livros emprestados de Sylvia Beach na “Shakespeare and Company” e sempre estava atrasado com o pagamento das taxas de empréstimo. Sylvia, no entanto, é bondosa e solícita, incentiva o jovem casal [Hemingway e Elizabeth Hadley] a pegarem o máximo de livros que puderem. Um dos capítulos, inclusive, chama-se “A fome como boa disciplina”, no qual Ernest afirma que caminhar pelos museus com o estômago vazio o faz apreciar melhor as pinturas e obras de arte.

“Paris é uma festa”, no entanto, foi escrito por um Hemingway mais velho. Ele concluiu o trabalho aos 61 anos e foi provavelmente o último livro que escreveu. Além da Paris idílica, do jovem escritor que largou a carreira de jornalista e passou fome pela sua arte e dos grandes nomes da literatura, temos também o Hemingway narrador, pouco antes de cometer suicídio. No capítulos finais, a nostalgia fica aguda e Hemingway começa a analisar, de forma sutil, onde sua vida começou a dar errado, que, segundo ele, começou logo depois da publicação de seu primeiro romance.


Hemingway esteve em Paris outras vezes. Mas neste livro, página após página, acompanhamos o jovem de roupas fora de moda, que gastava seu dinheiro em corridas de cavalo, vinho e quadros, que escrevia metodicamente todos os dias e que relembra, com saudade, dos tempos em que vivia uma vida simples, descomplicada e feliz.



Stéfanie Medeiros.

P.S.: Todos os gifs são cenas do filme "Meia-Noite em Paris", de Woody Allen, baseado no livro de Hemingway.


Observação: Texto publicado originalmente no site Olhar Conceito (Clique AQUI)

3 comentários:

  1. Aaaah, Meia Noite em Paris é perfeito! *.*
    Amo!
    E Hemingway é o melhor personagem, haha.

    Nunca li nada dele, mas me interessei por Paris é uma Festa.
    :)

    Beijooooooooos

    www.casosacasoselivros.com

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  2. cara.... eu to besta, q coisa triste, passear pelo museu com fome e dizer que assim aprecia melhor as obras </3
    eu nunca li nada do autor, nem vi o filme (sou a unica do mundo q não gosta do Woody Allen?)

    bjinhus
    http://dudikobayashi.blogspot.com.br/

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  3. "Meia-Noite em Paris" é muito bom! Mas, parece que está longe de estar completo sem ler “Paris é uma festa”. Preciso acrescentar na listinha e, quem sabe, revisitar o filme depois! O filme "Hemingway & Gellhorn" também me fez ficar curiosa pra saber mais, mas começar por esse deve ser bem bom! :)

    Beijo, beijo.

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