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"Halloween: doces e travessuras!"


Há um nevoeiro mágico rondando a cidade. A linha invisível que nos separa hoje está por um fio. Nós vamos para a mesma festa e não será assustador. Não há máscaras, nem desculpas. Só uma ligação de longa distância improvisada. O solstício de inverno chegou e, com ele, a celebração de mais um novo ano. Nem o hemisfério trocado poderia atrapalhar o que essa noite nos reserva. 

A preparação é simples. Basta separar os ingredientes, seguir as instruções e cruzar os dedos. Quem diria que o velho diário da infância, um dos poucos que escrevi, teria em seu conteúdo um misterioso tesouro. Ali, entre os devaneios de uma garota de apenas 9 anos, estava aquilo que a mente apagou de suas lembranças até então: uma espécie de feitiço! Muitos diriam que é tudo bobagem, fruto de uma mente criativa e sem limites. Mas, seria possível que as palavras de uma criança tivessem tal poder? 

Encarar as páginas escancaradas na mesa é de arrepiar. Aquelas folhas desgastadas pelo tempo e dominadas por uma caligrafia infantil continham uma verdade crua e desejos honestos: "nunca se esqueça dessa menina da qual os sonhos não tem barreiras e os amores são infinitos". Em seguida, o lembrete: "se um dia precisar, no Halloween, seu amigo imaginário irá encontrar". Pois bem, essa data chegou - e, com ela, o ritual.  

Primeiro, é necessário preparar as lanternas. A moranga carnuda irá ceder espaço para que a vela possa iluminar seu interior. A máscara assustadora da abóbora irá espantar os maus espíritos e as vibrações negativas para longe de nós. Depois, é hora de montar a cesta de doces e sabores de felicidade. Acrescentar um bolo bem bonito, um riso sincero e uma lembrança pura. Para finalizar, um buquê de ervas especiais: ramos de alecrim, louro e alfazema - uma pequena vassoura que jamais deve tocar o chão. 


O caminho para a festa é impressionante. As lanternas iluminam o trajeto para dentro da floresta como um convite ao desconhecido. O local já estava cheio quando cheguei. As pessoas circulavam por todos os lados, fantasiadas, e se reuniam na clareira que fica no centro da mata. A natureza soberana parece cantar para a noite que dança ao seu ritmo. Guardiãs da escuridão, as corujas observam atentas a confraternização em seu território. Centenas de mensagens de amor e harmonia são depositadas em um caldeirão como um tributo em agradecimento pela vida. A sintonia entre todos era tocante. 

Me afasto da reunião e procuro um local calmo. Solto um longo suspiro, abro o diário e leio em voz alta: "água, terra, fogo e ar. Universo me revele aquilo que eu devo recordar". Nesse momento, quando a lua se esconde no céu, é que eu o vejo. Parado na minha frente está um esbelto gato preto. E, antes que a minha vista se acostume com a escuridão, ele se transforma. Em seu lugar, surge uma menina de longos cabelos castanhos e olhar profundo. Ela me encara e parece se divertir com a minha confusão.


"Você?", pergunto admirada. A garota encolhe os ombros e responde: "ué, e quem mais você esperava encontrar?". Caramba, ela sou eu... criança! "Eu não entendo como isso é possível?", retruco. "Olha, querida eu, não complique mais as coisas do que elas são. Sim, sou você. Achei que você já teria entendido ao ver o gato", conclui a garota. "Gato? Como assim?", pergunto curiosa. "Oras, gatos são símbolos de meditação. Do encontro com seu 'eu' interior. No caso, eu", ela explica atenciosamente. Paro por um momento e reflito. "É, faz sentido".

Aproveitando a deixa, a garota continua: "o Halloween é o momento em que confrontamos nossas próprias atitudes. É um dia para fortalecer a conexão entre o passado e o futuro. E você, minha cara, está se tornando uma pessoa muito prática. Cadê aquela menina que tinha uma crença apaixonada por momentos mágicos?". A única coisa que consigo responder é: "não sei. Ela cresceu?". A garota se aproxima um pouco mais, sorri e fala: "ei, tenho uma notícia pra você: ela ainda existe aí dentro e não me decepcionou! Tava na hora de incendiar energias e você o fez! Pegou um encanto infantil e apostou no imprevisível. Querida, veja bem, o imprevisível também é uma forma de sonhar". Nesse instante, começo a gargalhar e confesso: "isso tudo, definitivamente, não era o que eu esperava. Sem ofensas, mini-eu". Em seguida, prossigo: "afinal, para que servem todos esses itens que eu separei?".

"Ah, para tudo tem uma explicação. Ou quase. O bolo é para adoçar a vida; o riso sincero tem o poder de um abraço; a lembrança pura te permite manter a mente aberta; e a vassoura, essa, é para limpar o teu caminho e te livrar de tudo que não lhe faz bem", ela explica. "Oh!", exclamo. A garota observa ao redor e conclui: "e, quer saber, a lanterna é divertida e contam por aí que ela também espanta os duendes que vagam pela noite. Nunca vi um deles, mas sei lá, né". A lua volta a aparecer e percebo que menina começa a desaparecer. Me apresso em perguntar: "e agora, o que vai acontecer?". Ela pisca o olho e diz: "oras, o que for acontecer agora só depende de você. O 'outro lado' faz parte de nós. Sempre estarei contigo. Tanto que, se eu fosse você, iria correndo aproveitar a festa. Dizem por aííí que teu fu... tuuuro a... moor es.... tááá lá á á". Por fim, ela some. "Será?", falo sozinha. É, tá na hora de apostar no acaso.   

Emily Antonetti

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